07 de fevereiro de 2025
Caminhar
Caminhar
Quando foi que minha cabeça se viu organizada, senão num plano ideal que habita as penumbras dos meus dias? Passo a noite pensando, e, se não penso — o que é improvável —, sonho e amanheço disposto daquele sonho que não é realidade. Daí, tento buscar na agenda coisas que estão pendentes e que terão de demandar mais tempo, porque, afinal, a conjuntura não é favorável à minha realização.
Há tanto tempo que penso nisso e busco soluções para tanto que me é impossível resolver. O meu tempo de qualidade, ainda que lento, deveria servir a mim somente. Não obstante, sou desprovido dessa paz estoica de aceitar como tudo é e de buscar uma vida feliz na morosa realidade que disponho. Mas eu sonho tanto, que a vida é curta para os meus sonhos e eu sou tão avesso à vitalidade que o meu desconforto toma o lugar dessa idealização. Então, a realidade diminuta se faz presente entre os meus dias.
O problema dos maus tempos é que logo eles trazem esses desejos de flores novamente, e então me verei ao seu abrigo tão logo que terei de lidar com essa ânsia já na próxima manhã. E, ainda assim, sou sujeito à materialidade da constância da imperfeição. Vivo na realidade de corpo, ainda que minha alma sonhe para além do mundo visível. Meu corpo não responde à minha alma, senão para dar luz ao desânimo cotidiano e à inquietação funcional.
Mas ainda é cedo, e há muito da minha luta para finalizar isso mesmo que escrevo e partir para as milhares de coisas que devo continuar fazendo e que deveria terminar ao fim do dia. Não vai acontecer — não sou idealista, senão na mentira. A vida, talvez, seja isso: caminhar, caminhar, até que já não se possa mais caminhar.