18 de fevereiro de 2025
Contemplar
Contemplar
A arte da beleza é infinita porque se expande à medida que o universo se transforma, e ela é somente sobre a minha interpretação do mundo. Estou preso à minha realidade e sou restringido por todas as expressões dos fenômenos diários que se mostram a mim. Tudo é quimera. A coisa em si que se revela me escapa e muda constantemente. O que penso segue a minha estrutura miserável. Falho. A linguagem padroniza minha forma de alucinação em palavras, mas o sentido que passa pela concepção da minha subjetividade já é outro; o ar que chega a mim também já é outro. Não penso nada de novo; não invento nada novo. Penso o que existe ,embora, certa vez,concordei com a afirmação de que a beleza do mundo está nos olhos de quem vê. Isso há de contrariar o que penso agora… e o que não o faria? É que o que sinto para pensar, embora parta da mesma confusão, se molda ao instante. Nele, o belo de tudo está em si mesmo, independentemente de algum olhar a confirmar isso, e a minha capacidade de ver também está implícita dentro de mim. Um gene guarda a informação que se materializa na concretude da expressão ou existe apenas como gene. Eu sou gene que se expressa, e se a expressão se esvai, junto dela também me vou, e o que tenho de ar e de potência não mais terei.
Agora eu ouço a chuva, e meu registro da chuva não é o belo que criei. É o belo que descobri. Agora eu olho a chuva, e o que sinto ao olhar a chuva está na própria chuva. Agora eu sinto a chuva, e ao sentir a chuva interajo com sua brisa de modo a se formar o belo que percebo. Não crio a noção de belo, crio a interpretação.Não há nada de especial em olhar a chuva. Só para mim, que nada sei, que nada tenho e que estou perdido no mundo, que isso é tudo. A completude do que é esplêndido já existe, e eu nada tenho a dizer que já não esteja presente nas estrelas. Nada tenho a pensar que as plantas já não tenham pensado — sem saber que pensaram. Eu sou apenas o olheiro.