03 de junho de 2025
Lembra?
Lembra?
Lembra daquele instante em que o mundo silenciou sob o céu que já anunciava o infinito? Essa noite que me habita inteira — de tudo que me fez bem e de tudo que me dilacera até hoje.
Queria não ter te largado tão cedo. Queria que nossos lábios tivessem continuado conversando no escuro até amanhecer. Ah, como queria! Agora, só amanhece dentro de mim quando me deito no frio e te invento outra vez no calor da lembrança.
Não posso fazer você entender. Como a Lua não sabe por que se atrai tanto pela Terra. É que a gravitação de sua alma é tão grande— e eu não consigo lutar contra isso. Oh, minha estrela! Estás tão longe que só posso te trazer à memória enquanto contemplo o seu céu no sereno de uma noite. E hoje, hoje eu não quero nada mais do que te contemplar.
Há tanto que eu faria diferente. Sempre há. A tortura de imaginar os caminhos que não foram trilhados, os passos que hesitaram, a decisão que ficou entre os dentes. Mas hoje, já não me cabe perguntar. Só me cabe lembrar. E se eu tivesse deixado aquele teu olhar apaixonado me atravessar de verdade? E se eu tivesse permitido me apaixonar por você, nem que fosse só por aquele momento? Talvez aquela noite tivesse começado antes — e talvez fosse ainda mais viva, mais inteira-ainda que meu corpo não suportasse.
Que mais eu poderia querer, se tudo eu já tive — ali, nos segundos em que você era minha e eu, seu? Então, deixa assim. Deixa a noite como foi. Deixa minha memória guardá-la do jeito que aconteceu: perfeita, breve, eterna. E que me baste, por agora, sonhar que um dia o destino tenha piedade de mim — e me ofereça, uma vez mais e sempre, a ti.