28 de janeiro de 2025
O único sentido é sentir
O único sentido é sentir
Quer saber? Eu realmente não me importo. Na verdade, me importo sim... É que a minha importância é seletiva, a minha mesquinhez restrita à minha sombra.
E o mundo, como um todo? Tenho que fingir que ignoro essas projeções. E, quando o faço, sinto-me bem, porque sinto-me eu. Há, claro, uma idealização tola nisso, mas onde não há? Eu duvido que algo se sustente sem um mínimo dela.
E as minhas palavras não precisam fazer sentido pra ninguém, entendeu? — Não que não possam fazer, até podem... Não sou dono da palavra; ela apenas me foi emprestada pelo acaso, como o próprio sopro de vida. Elas fazem muito sentido para quem as escreve, e esse é o atentado que ouso cometer contra a linguagem — eu, que ouso tão pouco. Mas, quer saber? Eu não me importo.
Se quer formular sua metafísica literária e ficcional,seja com base nas crenças ou na forma de ver o mundo,eu ti lerei e darei-lhe todo apreço como quem oferece o brilho no olhar de quem ama.Mas eu,eu não! Eu realmente não consigo. Minto,talvez eu consiga,tal como ser elegante ao esconder minha intenção primeira e real ao dizer: olha, tenho preguiça disso, tanto quanto de todo o resto. Tenho muita preguiça disso e a contradição é que também tenho curiosidade.Talvez, um dia, isso mude. Eu realmente espero que mude, porque a sistemática da normalidade das verba(liza)( ações) parece tão bonita.
Mas, convenhamos, tá? Nem criativo para isso eu sou. Veja minha palavra, veja...
Qual é a minha filosofia? Não sei! A minha filosofia é pensar sobre qual é a minha filosofia.
Mas eu não tenho coerência para tê-la. No final, é isso: tudo gira em torno da aparência do sentido e a sombra do propósito. O problema é que a vida não conhece a natureza dessa linha metafórica,certo? Certo!
Devo dizer que eu vejo muita beleza nisso. A beleza do sonho improvável que se concretiza na possibilidade. A beleza da natureza superior, que não precisa de respostas porque tudo está em si própria. Vejo a beleza,a estética da sensibilidade e perdoo-me por me angustiar nas minhas quedas e nas buscas diárias por sentido. Porque é essa mesma busca,essa mesma incógnita e esse mesmo mistério que me faz caminhar, enquanto suporto os ares, a ociosidade ou a inércia das estradas.
Anote isso aqui — eu preciso que isso seja estampado para lembrar-me disso todos os dias: o único sentido é sentir.
Mas o que é sentir? Não sei. Pergunto isso logo mais à poesia que irei escrever. Repito: o único sentido é sentir.
Eu desafio qualquer um a me mostrar algo diferente disso. Não porque tenho certeza de algo,mas porque talvez ,se eu estiver errado, pudera eu beber da fonte da plenitude e da conformidade. Tenho convicção da dúvida,mas pouca esperança na verdade. O que preciso,também,é que eu esteja aberto às perspectivas alheias sobre a alma e então,quem sabe, isso se materialize como verdade abstrata. Diga-me,então: o que é a alma?
Por um momento, vou fingir crer na dualidade da vida humana. Aliás, finjo, mas por isso escrevo. E veja: também não tem sentido... E nem precisa ter. Espero que isso esteja sempre muito claro aos clérigos de alma incompreendida que por acaso lerem isso aqui.
Tenho um pseudo-projeto de livro no qual faço uma reflexão super vazia sobre a saudosa frase de Ferreira Gullar que diz: "A arte existe porque a vida não basta."
Eu digo: escrevo porque nada basta.